terça-feira, 14 de dezembro de 2021

A pandemia de COVID-19 em dezembro de 2021: o objetivo é eliminar, diminuir ou permitir a circulação do vírus?

 

Rio de Janeiro, escrito entre 2 e 9 de dezembro de 2021.

 

Neste momento não temos que pensar apenas em controlar a transmissão do vírus, mas também em sair da pandemia. Máscara, distanciamento físico e testagem em massa são bons para evitar a transmissão do vírus, mas não para acabar com a pandemia. Por isso, talvez haja boas justificativas para que essas medidas sejam aplicadas com parcimônia neste momento. É como um jogo de xadrez, em que cada passo deve ser avaliado cuidadosamente quanto ao seu provável efeito, considerando dois objetivos: evitar a transmissão do vírus e sair da pandemia. Ao contrário do que parece, esses dois objetivos tendem a ser antagônicos. Há um delicado trade off, pois os passos que favorecem um tendem a desfavorecer o outro. A principal motivação deste texto é tentar esclarecer o antagonismo entre esses dois objetivos, com a esperança de que esse esclarecimento possa auxiliar os fazedores de políticas públicas e as pessoas de uma forma geral a tomar decisões mais racionais neste momento.

 

Há consenso entre grande parte dos especialistas de que não é possível eliminar a circulação do SARS-CoV-2[1]. Até mesmo países que a eliminaram (por exemplo, Nova Zelândia), reconhecem que se quiserem relaxar o controle de suas fronteiras, terão que abrir mão da vida livre de COVID-19[2].

 

As alternativas para lidar com essa pandemia, desde o início, sempre foram as mesmas: eliminar, controlar ou permitir a circulação do vírus[3]. O que diferencia este momento (dezembro de 2021) é, principalmente, o sistema imune das pessoas que, ao contrário do início da pandemia (março de 2020), não é mais naive (imunologicamente ingênuo).

 

O grande temor que tivemos do SARS-CoV-2 foi porque não sabíamos quão virulento (agressivo) ele era e porque as pessoas tinham um sistema imune naive frente a ele. Atualmente, praticamente todos os adultos no Brasil já foram vacinados e/ou infectados e sobreviveram à infecção pelo SARS-CoV-2. Além disso, muitos adultos e crianças continuam tendo reinfecções por este vírus ou recebendo novas doses de vacina. Tudo isso nos tornou, em pouco tempo, imunologicamente preparados para enfrentar novos encontros com este vírus. Portanto, neste momento, estamos numa situação mais favorável em relação ao vírus do que no início da pandemia.

 

Existe justificada preocupação com novas variantes. No caso específico da OMICRON, ou de novas variantes com características similares que porventura venham a surgir, a preocupação se justifica principalmente pelo seguinte: mesmo que ela seja menos letal (ou menos agressiva), se ela for mais transmissível, a quantidade total de casos graves na população pode ser maior do que durante a predominância de variantes anteriores (como a DELTA), que parecem ser mais agressivas e menos transmissíveis. Ou seja, do ponto de vista do indivíduo, a OMICRON pode ser menos preocupante (menor probabilidade de levar uma pessoa infectada à hospitalização ou morte), mas em números totais na população ela pode gerar mais hospitalizações, mortes e, consequentemente, sobrecarregar os serviços de saúde. No entanto, há dois fatos que também devem ser enfatizados. Primeiro, quaisquer que sejam as novas variantes do SARS-CoV-2, elas encontrarão pessoas que já possuem um sistema imune alerta (pela vacina e/ou pela infecção). Segundo, a probabilidade de que surja uma variante do SARS-CoV-2 que consiga escapar completamente da imunidade que adquirimos pela vacina e pela infecção é pequena[4].

 

A vacina (e a infecção) evita a infecção (e a reinfecção) e a transmissão do SARS-CoV-2, mas apenas por um tempo limitado. A imunidade contra a infecção pelo SARS-CoV-2 enfraquece rapidamente, algo em torno de 3 a 6 meses para a variante DELTA[5], enquanto a imunidade contra COVID-19 grave e morte parece ser mais longa[6]. Novas variantes do SARS-CoV-2, como a DELTA, alteraram pouco a eficácia da vacina e o mesmo pode ser o caso da OMICRON, mas isso ainda está sendo pesquisado.

 

O monitoramento de adultos que adoecem em decorrência da COVID-19 depois de estarem vacinados ou de terem tido COVID-19 anteriormente é importante, pois necessitamos saber se esses casos tenderão a ser brandos ou graves. O monitoramento de crianças não vacinadas que pegam COVID-19 pela primeira vez é importante, pois precisamos saber se esses casos tenderão a ser brandos com o surgimento de novas variantes, como tem sido até este momento da pandemia, incluindo a DELTA e suas antecessoras.

 

Os dilemas que estamos enfrentando neste momento

 

Ainda que as alternativas para lidar com a pandemia sejam as mesmas disponíveis desde o início (eliminar, controlar ou permitir a circulação do vírus), o momento atual é diferente pelo menos por dois fatos novos: o vírus já se espalhou universalmente de forma a tornar sua eliminação uma meta provavelmente inatingível e a imunidade adquirida específica tornou as pessoas menos suscetíveis à COVID-19 grave e morte. Esses dois fatos novos reforçam as alternativas de controlar e a de permitir a circulação do vírus e enfraquecem a de eliminar o vírus. Outra diferença do momento atual é que os serviços de saúde contam com conhecimento, experiência e recursos farmacológicos relativamente efetivos para tratar casos graves de COVID-19 que não estavam disponíveis anteriormente.

 

A opção predominante atualmente é pela diminuição da circulação do vírus. Essa alternativa se caracteriza principalmente pelas seguintes medidas: vacinação; preferência por ambientes arejados e ventilados; distanciamento físico de 1,5m entre as pessoas; uso de máscara em ambientes internos; higienização frequente das mãos; testes para presença de SARS-CoV-2 em pessoas com sintomas de COVID-19 e de seus contatos seguidos de isolamento por 10 a 14 dias dos infectados; rastreamento para SARS-CoV-2 de pessoas assintomáticas seguido de isolamento por 10 a 14 dias dos infectados.

 

Um problema ocorre quando as autoridades de saúde e líderes políticos adotam medidas que parecem objetivar a eliminação ao invés da diminuição do vírus. Partindo do princípio de que eliminar a circulação do SARS-CoV-2 é uma meta pouco realista e difícil de se sustentar no longo prazo (e até mesmo não desejável, devido ao alto custo social e econômico decorrente do controle rígido de fronteiras, isolando o país da comunidade internacional, e dos lockdowns periódicos que prejudicam a economia, a vida social e o sistema educacional), as autoridades devem deixar claro que as medidas adotadas atualmente visam apenas diminuir a circulação do vírus e a carga viral entre os infectados (este, inclusive, é um dos efeitos da vacina), e não a eliminação do vírus. Isso é importante porque ao não diferenciar claramente a meta de diminuição da meta de eliminação, autoridades podem inadvertidamente exagerar na dose das medidas de controle. Ou seja, medidas muito rígidas de controle podem estar sendo motivadas pelo desejo inconsciente das autoridades e da população de eliminar a circulação do vírus. Esse exagero na dose pode causar transtornos sociais, econômicos e psicológicos desnecessários e até mesmo retardar, desnecessariamente, a transição para a endemicidade branda (veja a seguir) e, consequentemente, adiar o fim da pandemia.

 

Outra armadilha que autoridades de saúde pública e políticos devem evitar é a tentativa de se manter fiel às políticas que eles defenderam durante grande parte da pandemia, não considerando que os dados atuais mudaram em relação àquela época. É comum as pessoas se apegarem às suas opiniões e crenças, mesmo diante de mudanças importantes nos dados da realidade. Assim como investidores se apegam a determinadas ações ou teses de investimentos, mesmo quando os dados sugerem que a melhor alternativa é vender, sair ou mudar a tese. Autoridades e políticos podem temer ser criticados se mudarem suas orientações, passando a defender alternativas defendidas por políticos e acadêmicos em campos opostos. Essa armadilha (vaidade; viés do favorecimento do meu lado – “my side bias”) deve ser evitada, pelo bem da saúde pública. É perfeitamente compreensível (e até desejável) que orientações que foram dadas nos primeiros dois anos da pandemia sejam questionadas agora, neste momento de transição rumo ao fim da pandemia. Por exemplo, é possível que as orientações a favor de lockdown e uso de máscara e contra convívio social presencial tenham sido corretas anteriormente, mas questionáveis neste momento de transição rumo ao fim da pandemia. Independentemente de quais medidas são adequadas ou não neste momento, é importante que especialistas e autoridades se desapeguem de orientações que deram anteriormente e sejam capazes de defender medidas até opostas neste momento (se for o caso), considerando novos dados e novos conhecimentos. Com duas doses da vacina já aplicadas em quase todos os adultos e três em quase todos os idosos, talvez os “John Snows” devessem começar a se aproximar um pouco das ideias dos “Great Barringtons”.[7] Como os autores do John Snow Memorandum escreveram em outubro de 2020: “The evidence is very clear: controlling community spread of COVID-19 is the best way to protect our societies and economies until safe and effective vaccines and therapeutics arrive within the coming months”.

 

Seria bom se autoridades científicas e políticas explicitassem (e constantemente lembrassem a população) que a meta neste momento é a diminuição e não a eliminação do SARS-CoV-2, já que a meta de médio e longo prazos é a endemicidade branda e não a eliminação da COVID-19[8]. Assim, as tomadas de decisões no enfrentamento do vírus podem ser mais racionais, bem informadas e sustentáveis e, mais importante, balanceadas entre diminuir a circulação do vírus e abreviar o período rumo ao fim da pandemia.

 

Da pandemia para a endemicidade branda: duas hipóteses plausíveis

 

Provavelmente estamos em uma fase de transição entre a pandemia e a endemicidade branda, mas não sabemos quanto tempo essa fase durará[9]. A endemicidade branda pode ser caracterizada pelo momento em que a COVID-19 será não mais grave do que a gripe (Influenza). A letalidade da gripe é de 1 morte por mil pessoas infectadas; a da COVID-19 é de 4 a 8 mortes por mil pessoas infectadas. Quando a letalidade da COVID-19 reduzir a um nível similar ao da gripe, poderemos considerar que chegamos na endemicidade branda.

 

Para tornar essa fase de transição mais bem informada, algumas hipóteses plausíveis devem ser conhecidas. Mas, antes de explicitar essas hipóteses, todos nós precisamos aceitar que ainda não sabemos muitas coisas importantes[10]. Por exemplo, as reinfecções serão mais brandas ou mais graves que as infecções primárias? Os casos em crianças continuarão a ser, em geral, assintomáticos ou brandos? Vale a pena vacinar as crianças? Quantas doses de vacina serão necessárias? O fato de sabermos que não sabemos muitas coisas importantes não deve nos paralisar até que as saibamos. Portanto, devemos tomar decisões mesmo diante de incertezas importantes. Vamos às hipóteses.

 

Hipótese Um - quanto maior for a circulação do vírus mais rápida será a transição para a endemicidade branda (fim da pandemia)

 

Quanto maior o R0[11], e quão menor for a duração da imunidade esterilizante[12], mais rapidamente ocorrerá a transição para a endemicidade branda[13]. Ou seja, quanto mais o vírus circular e quanto mais rapidamente minguar a imunidade esterilizante, mais robusto o nosso sistema imune se tornará para lidar com infecções subsequentes pelo SARS-CoV-2. Por exemplo, uma estimativa é que se o R0 fosse de 6 o período de transição até que o IFR[14] da COVID-19 atingisse o mesmo IFR da gripe influenza (ou seja, reduzisse de 8 para 1 morte por mil infectados) seria de 2 anos e meio; se o R0 fosse de 2, esse período aumentaria para mais de 10 anos[15]. O SARS-CoV-2 identificado em Wuhan tinha um R0 de 3. A DELTA tem um R0 de 6. A OMICRON provavelmente tem um R0 de 4 a 8[16]. Pode ser então que, com maior circulação de pessoas e relaxamento de medidas para evitar a transmissão do vírus e suas novas variantes mais transmissíveis, a pandemia acabe mais rapidamente.[17]

 

Essa hipótese revela um dilema:

 

- Por um lado é melhor que haja mais transmissão do vírus, pois assim mais rapidamente chegaremos na endemicidade branda. Quanto mais o SARS-CoV-2 circula e mais pessoas são desafiadas pelas antigas e novas variantes dele, mais o sistema imune das pessoas fica preparado para lidar com novos desafios desses vírus. Esse fato sempre foi verdade (i.e., exposição ao vírus gera imunidade adquirida), mas na fase da pandemia em que não havia vacinas e todas as infecções eram primárias, muitas pessoas morreram ou sofreram de COVID-19 grave em consequência de infecções primárias e um sistema imune naive. Isso foi o que ocorreu especialmente em países onde não houve políticas de eliminação ou de contenção efetiva do vírus, tais como o Brasil do Bolsonaro, os EUA do Trump e o Reino Unido do Boris Johnson (no início da pandemia).

 

- Por outro lado, como a exposição à vacina e à infecção não conferem 100% de proteção contra COVID-19 grave ou morte, permanece o apelo das medidas não farmacológicas para evitar a circulação do vírus, incluindo máscara, distanciamento físico e rastreamento/isolamento de infectados.

 

Atualmente, poucos adultos no Brasil têm um sistema imune naive. A grande maioria foi vacinada e/ou se infectou. Por isso, a probabilidade de ter COVID-19 grave ou de morrer por COVID-19 é bem menor hoje do que anteriormente. Isso nos permite “arriscar” um pouco mais na exposição a este vírus. Essa exposição via de regra não causará doença grave ou morte. Mais do que isso, essa exposição permitirá tornar nossa resposta imune cada vez mais robusta frente a este vírus, nos conduzindo mais rapidamente à endemicidade branda. Ou seja, neste momento, uma atitude e comportamentos mais sociais, reduzindo o uso de máscara e aumentando o convívio com as pessoas, são positivos não só do ponto de vista psicológico, econômico, educacional e cultural, como também do ponto de vista de nossa capacidade biológica de lidar com o SARS-CoV-2 e suas variantes.

 

Entretanto, como nosso sistema imune não é 100% perfeito, uma proporção pequena de pessoas terá COVID-19 grave e até morrerá de COVID-19. Uma proporção pequena de uma população grande pode significar um número grande de pessoas. O dilema está em aceitar que ao desistir da eliminação do vírus, estamos desistindo da possibilidade de evitar todas as mortes por COVID-19. Ao optar pela endemicidade branda, teremos que decidir quantas mortes e internações por COVID-19 são aceitáveis. Esse dilema é o que a Nova Zelândia está enfrentando no momento. Durante a pandemia, a NZ fez a opção pela eliminação da circulação do vírus e com isso o país teve menos de 50 mortes pela COVID-19 acumuladas durante toda a pandemia. Agora, se a NZ quiser relaxar os controles das fronteiras, terá que correr o risco de aumentar o número de mortes.

 

Hipótese Dois - as vacinas evitam a doença, mas permitem que o vírus continue circulando (e essa característica das vacinas contribui para que a transição à endemicidade branda seja mais rápida)

 

As vacinas contra a COVID-19 têm basicamente dois efeitos: evitar a infecção e a transmissão do vírus SARS-CoV-2; e evitar a incidência da doença COVID-19. Se a nossa imunidade esterilizante específica contra a infecção pelo SARS-CoV-2 tivesse longa duração e as vacinas fossem eficazes em evitar a transmissão do vírus, poderíamos almejar a eliminação da COVID-19 através da vacinação. No entanto, as vacinas contra a COVID-19 parecem ser mais eficazes em evitar a incidência da doença COVID-19 (especialmente os casos mais graves e as mortes) do que em evitar a transmissão do SARS-CoV-2. A imunidade conferida pela vacina contra a infecção pelo SARS-CoV-2 é grande[18], mas enfraquece rapidamente (mingua em poucos meses), enquanto a imunidade conferida contra a doença grave parece ter duração mais longa[19], mas isto ainda precisa ser confirmado por pesquisas mais longas.

 

A princípio, esta característica da vacina é uma desvantagem, pois torna irrealista a meta de eliminação do vírus, mas, dado que a meta é a endemicidade branda, esse tipo de vacina ajuda a encurtar a transição para o estado endêmico. Ao evitar os casos graves de COVID-19 por um tempo mais longo, a vacina cumpre seu papel principal para o indivíduo, que é evitar o sofrimento causado pela doença. Porém, como a imunidade contra a infecção enfraquece rapidamente, a vacina permite que o vírus continue circulando. Ou seja, as vacinas contra a COVID-19 evitam a doença (especialmente a grave, o que é bom para o indivíduo) e permitem que o vírus continue circulando (o que é bom para a saúde pública, pois estimula o aumento da imunidade adquirida frente a variantes antigas e novas). Assim, as vacinas permitem que a transição para o estado endêmico ocorra de forma mais segura e mais rápida[20]. O risco desse tipo de vacina é que ao permitir que o vírus continue circulando, permanece a possibilidade de surgimento de uma variante agressiva que escape ao sistema imune; mas, como já relatado, esse risco é pequeno[21].

 

Já temos informação científica suficiente para saber que a COVID-19 provavelmente não é como o Sarampo, em que um alto percentual da população vacinada elimina a circulação do vírus. Também parece que a velocidade com que ocorrem mutações relevantes é menor com o SARS-CoV-2 do que com a Influenza. Por isso, é plausível que em algum momento no futuro não sejam necessárias novas doses de vacinação[22].

 

Letalidade da pandemia neste momento no Brasil

 

Número de casos e mortes por COVID-19

 

Em 3 de dezembro de 2021 havia 22,1 milhões de casos de COVID-19 diagnosticados e 615 mil mortes acumuladas desde o início da pandemia no Brasil. Isso sugere que 2,9% dos casos diagnosticados redundaram em mortes ([615.000/22.100.000]x100), ou seja, esta seria a letalidade da COVID-19 no Brasil. Porém, muitos casos de COVID-19 não foram diagnosticados porque houve uma quantidade pequena de testes disponíveis no Brasil, em comparação com outros países. Se presumirmos que a subnotificação de casos foi tão frequente quanto a subnotificação de mortes por COVID-19, tanto o denominador quanto o numerador estariam sendo subestimados, no mesmo grau, neste cálculo. Neste caso, a letalidade seria mesmo aproximadamente 2,9%. Caso a subnotificação de casos tenha sido maior do que a subnotificação de mortes por COVID-19, a letalidade seria menor do que 2,9%.

 

Uma quantidade grande de pessoas foi infectada pelo SARS-CoV-2, mas não teve sintomas (assintomáticos) ou teve sintomas leves. Para calcular a letalidade do SARS-CoV-2 teríamos que colocar no denominador o número de pessoas infectadas pelo SARS-CoV-2 ao invés do número de pessoas diagnosticadas com COVID-19. Esse número não é conhecido, mas é certamente bem maior. Uma estimativa entre maio e junho de 2020 relatou a letalidade do SARS-CoV-2 no Brasil como sendo de 0,71%, ou seja, aproximadamente de 7,1 mortes por mil pessoas infectadas[23]. Esses dados sugerem que a letalidade calculada a partir dos casos de COVID-19 (2,9%) é aproximadamente 4 vezes maior do que a letalidade calculada a partir dos casos de infecção pelo SARS-CoV-2 (2,9 / 0,71). Ou seja, a letalidade da doença COVID-19 era de quase 30 em mil e a letalidade da infecção pelo vírus SARS-CoV-2 era de aproximadamente 7 em mil, antes da vacinação no Brasil (maio a junho de 2020).

 

A vacinação no Brasil foi iniciada em janeiro de 2021 e em agosto atingiu 50% da população (pelo menos 1 dose). Em 1 de agosto de 2021 havia 19.94 milhões de casos e em 29 de novembro de 2021 havia 22.08 milhões de casos, portanto, em aproximadamente 4 meses houve um acúmulo de 2.140.000 casos diagnosticados de COVID-19. Em 1 de agosto de 2021 havia 556.834 mortes e em 29 de novembro de 2021 havia 614.376 mortes acumuladas, portanto, em aproximadamente 4 meses houve um acúmulo de 57.542 mortes por COVID-19. Isso sugere que 2,7% dos casos diagnosticados redundaram em mortes ([57.542/2.140.000]x100) entre agosto e novembro de 2021. Esta seria a letalidade da COVID-19 no Brasil entre agosto e novembro de 2021, com 50% da população vacinada com pelos menos 1 dose em agosto e 62% em novembro de 2021. Esses dados sugerem que a letalidade do SARS-CoV-2 foi de 6,8 em mil neste período de 4 meses com vacinação parcial (2,7/4)[24]. Antes da vacinação a letalidade do SARS-CoV-2 era de 7,1 em mil. Tudo indica que a letalidade será cada vez menor com o aumento do percentual da população adulta com pelo menos 2 (e 3) doses de vacina[25].

 

Porém, cabe um alerta. Viroses respiratórias tendem a ser sazonais. Com a COVID-19 talvez não seja diferente. Nas cidades de São Paulo e do Rio de Janeiro, os momentos de pico de mortes por COVID-19 nesta pandemia foram nos meses de março a junho, tanto em 2020 como em 2021. Outubro e novembro nos dois anos da pandemia foram meses em que a mortalidade total foi similar a esses mesmos meses antes da pandemia, em 2018 e 2019 (gráficos). Portanto, a situação pouco letal que estamos vivendo neste momento pode, novamente, ser apenas temporária e um novo pico pode ocorrer entre março e junho de 2022. Esta previsão é plausível, pois com as festas de fim de ano e o período de férias e carnaval em janeiro e fevereiro, há mais contato físico entre as pessoas e, consequentemente, um aumento na transmissão do vírus. Como dito anteriormente, a vacina não é 100% eficaz em evitar hospitalizações e mortes, então mesmo um percentual pequeno de pessoas vacinadas que adoeçam gravemente pode gerar um número grande de casos graves e mortes na população[26].

 




 

Quais são as políticas públicas e comportamentos individuais mais adequados, considerando que: 1) quanto maior a circulação do vírus mais rápida será a transição para a endemicidade branda, 2) as vacinas evitam a doença, mas permitem que o vírus continue circulando (e essa característica das vacinas contribui para que a transição à endemicidade branda seja mais rápida) e 3) a letalidade do SARS-CoV-2 é de aproximadamente 7 por mil no Brasil neste momento?[27]

 

A vacinação em crianças retardará o fim da pandemia?

 

A decisão pela vacinação ou não de crianças serve como uma boa ilustração de como é importante ter clareza se o objetivo é eliminar o vírus, diminuir sua circulação momentaneamente ou acabar mais rapidamente com a pandemia. Há médicos e autoridades que defendem a vacinação das crianças porque assim a pandemia acabaria mais rapidamente. Essa mensagem (crença) pode estar incorreta. Provavelmente, é justamente o contrário; do ponto de vista populacional, vacinar as crianças deve causar uma redução do R0 e, consequentemente, retardar a transição para a endemicidade branda[28].

 

Do ponto de vista individual, como o risco de doença grave e morte por COVID-19 é pequeno em crianças (esse é o principal benefício da vacina contra COVID-19), a probabilidade de benefício da vacina é pequena para cada criança individualmente. Ainda que a vacina seja segura para crianças (e de fato parece ser), com base no estudo da vacina da Pfizer[29], as probabilidades de benefícios e de danos podem ser consideradas equivalentes para cada criança, já que não houve casos graves de COVID-19 nem casos graves de efeitos adversos, nem no grupo da vacina nem no grupo placebo. Foram 91 e 8 casos de COVID-19 por mil crianças/ano no grupo placebo e vacina, respectivamente, gerando uma eficácia de 90,7% na redução dos sintomas de COVID-19. Os sintomas de COVID-19 foram leves ou moderados e incluíram febre, tosse, dor de garganta e diarreia. Os efeitos adversos da vacina também foram leves ou moderados e incluíram febre (7% e 1% no grupo da vacina e placebo, respectivamente), fadiga (39% e 25%), dor de cabeça (28% e 19%) e uso de medicamento antipirético (20% e 8%).

 

Vale também notar que a proporção de crianças que contrai COVID-19 na população é bem pequena (mesmo se as crianças não forem vacinadas), enquanto a vacinação é direcionada à população total de crianças. Então, em números absolutos, a quantidade de crianças com sintomas da vacina (febre e dor, por exemplo) é bem maior do que a quantidade crianças com sintomas da COVID-19 (febre, tosse e dor, por exemplo).

 

Não é errado (ou certo) médicos e autoridades recomendarem a vacinação das crianças neste momento da pandemia, mas é importante que a recomendação seja feita pelas razões corretas. Por exemplo, se existe uma preocupação quanto ao risco de surgimento de um surto da doença com aumento de casos graves e mortes, ou pelo temor de surgirem novas variantes mais agressivas (mesmo que essa possibilidade seja pequena), a vacinação poderia ser recomendada com base nessas premissas, como uma medida de precaução, com o objetivo de diminuir a circulação do vírus e a carga viral entre os infectados (ainda que não haja evidência do benefício da vacina em crianças em evitar casos graves ou mortes). Mas, é importante reconhecer e compartilhar com a população a informação de que esta medida pode trazer uma proteção importante no momento, mas que com ela nós corremos o risco de retardar a transição para a endemicidade branda (talvez, desnecessariamente).

 

Devido ao desejo, provavelmente irrealista, de eliminar a circulação do vírus, talvez médicos e autoridades não tenham considerado esse risco populacional de retardar a transição para endemicidade branda ao fazer a recomendação da vacinação em crianças. Independentemente de se optar pela vacinação ou não vacinação em crianças, é importante que decisões desse tipo sejam tomadas de forma bem informada e com base em estratégias explícitas e claras quanto ao controle momentâneo da pandemia e a transição mais rápida à endemicidade branda.

 

Medidas não farmacológicas para contenção do vírus

 

Raciocínio similar se aplica às medidas não farmacológicas para diminuir a circulação do vírus. Com o nosso sistema imune menos naive neste momento, talvez uma estratégia racional seja tornar a transição para endemicidade branda o mais rápida possível, sem correr risco alto de hospitalizações ou mortes. Para isso, as pessoas poderiam começar a ser encorajadas a se expor, sem exageros e de forma gradual, aos desafios do SARS-CoV-2. Por exemplo: manter o uso de máscara, mas apenas em ambientes internos ou por pessoas com algum sintoma de virose respiratória; retorno ao trabalho, estudo e lazer presenciais, mas dar preferência por ambientes externos ou, quando internos, com boa circulação de ar; testes para detectar SARS-CoV-2 apenas em pessoas com sintomas para confirmar a presença da COVID-19. Medidas como essas devem criar ambientes relativamente seguros de exposição moderada ao vírus, pela proteção contra doença grave e morte já conferida pela vacina e infecções primárias. Ao mesmo tempo, como as vacinas promovem a imunidade esterilizante apenas por um curto período de tempo, elas permitem que pessoas vacinadas (ou seja, relativamente protegidas) se infectem por versões antigas e principalmente novas do vírus, o que contribui para acelerar a transição para a endemicidade branda. Mas, para que o desafio do vírus ocorra, mesmo que de forma moderada, as pessoas não podem se isolar demais, ou seja, as medidas não farmacológicas devem ter intensidade moderada.

 

Por outro lado, atenção especial, incluindo doses extras de vacina, talvez necessite ser direcionada aos grupos mais vulneráveis, principalmente idosos. Ainda que antes da vacinação as medidas de combate à COVID-19 devessem ser prioritariamente populacionais, i.e., direcionadas à população toda de forma similar, talvez neste momento caibam medidas especiais direcionadas aos grupos e indivíduos mais vulneráveis, de alto risco[30]. Por exemplo, o uso de máscara, o distanciamento físico e novas doses de vacina poderiam ser intensificados apenas entre os idosos e pessoas imunossuprimidas[31]. “Se a vacina causar uma grande redução na transmissão, pode ser importante considerar estratégias que direcionem a aplicação dela a indivíduos mais velhos, para quem a infecção pode causar morbidade e mortalidade mais altas, enquanto permitindo que a imunidade natural e transmissão sejam mantidas em indivíduos mais jovens.[32]

 

O fim da pandemia

 

Novas variantes do SARS-CoV-2 provavelmente surgirão indefinidamente, já que a sua eliminação não deve ocorrer. O conhecimento científico atual é suficiente para apoiar autoridades e população a optar por políticas públicas pouco restritivas, com o objetivo de agilizar a transição para a endemicidade branda, sem correr o risco de causar sofrimento, doença grave e mortes excessivas pela COVID-19. Com as populações protegidas contra casos graves e mortes pela COVID-19 (devido às vacinas e à sobrevivência às infecções primárias), o relaxamento no uso de máscara (em ambientes externos) e no distanciamento físico podem não só começar a estimular uma mudança psicológica salutar rumo ao fim da pandemia, como também promover uma maior robustez na imunidade adquirida, tornando mais rápida a transição para a endemicidade branda.

 

O uso preventivo de máscara pela população em geral e o isolamento físico podem ter tornado a população naive em relação a outros vírus respiratórios, como a influenza. Portanto, nesse momento de transição entre pandemia e endemicidade branda de COVID-19, o relaxamento no uso de máscara e o fim do isolamento físico podem levar a surtos de outras viroses, como está sendo observado neste momento na cidade do Rio de Janeiro, que está sofrendo com uma epidemia de gripe. A volta gradual do convívio social, sem máscaras (em ambientes externos) e com proximidade física, pode ajudar também a reduzir o risco de surtos e epidemias de outras viroses respiratórias.

 

Há ganhos do uso de máscara, do distanciamento e do isolamento físico (por exemplo, ficar em casa se estiver com sintomas de gripe ou de COVID-19) no controle de viroses respiratórias de uma forma geral. Portanto, mesmo com o fim da pandemia de COVID-19, é possível que um legado positivo seja o direcionamento dessas medidas às pessoas com sintomas de virose respiratória, para evitar que pessoas infectadas infectem outras pessoas.

 

Um aspecto importante do caminho rumo ao fim da pandemia é diminuir o medo das pessoas (e das autoridades) em voltar a levar uma vida normal, sem isolamento, distanciamento, máscara e rastreamento constantes. Há aspectos cruciais que precisam ser monitorados nesta fase de transição. As crianças (mesmo as não vacinadas) de uma forma geral continuam a apresentar quadros brandos de COVID-19 diante de infecções primárias? Pessoas vacinadas ou que já tiveram COVID-19 tendem a apresentar quadros brandos? A taxa de mortalidade por COVID-19 continua a diminuir e está se aproximando da taxa de mortalidade da gripe? Se as respostas a essas perguntas continuarem a ser positivas, podemos cada vez mais acreditar que estamos caminhando rumo à endemicidade branda, ou seja, ao fim da pandemia de COVID-19.

 

Autor

 

Paulo Nadanovsky, PhD

 

Professor Titular, Departamento de Epidemiologia, Instituto de Medicina Social, Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).

Pesquisador Associado, Departamento de Epidemiologia e Métodos Quantitativos em Saúde, Escola Nacional de Saúde Pública, Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ).

 

Aviso: não sou especialista em epidemiologia de doenças infecciosas. Leciono métodos epidemiológicos no curso de doutorado e mestrado na Escola Nacional de Saúde Pública da FIOCRUZ, no Instituto de Medicina Social da UERJ e no curso de graduação de medicina desta Universidade.

 

As opiniões neste artigo são minhas, não representam necessariamente as opiniões de outros profissionais nas minhas instituições muito menos o posicionamento oficial delas.

 



[1] The coronavirus is here to stay — here’s what that means. A Nature survey shows many scientists expect the virus that causes COVID-19 to become endemic, but it could pose less danger over time”. Nature: 590, 382-384; 2021. doi: https://doi.org/10.1038/d41586-021-00396-2.

[2] Navigating from SARS-CoV-2 elimination to endemicity in Australia, Hong Kong, New Zealand, and Singapore”. www.thelancet.com Published online October 4, 2021. https://doi.org/10.1016/S0140-6736(21)02186-3.

[3] Elimination could be the optimal response strategy for covid-19 and other emerging pandemic diseases”. Published: 22 December 2020. BMJ 2020;371:m4907. http://dx.doi.org/10.1136/bmj.m4907.

[4] High genetic barrier to SARS-CoV-2 polyclonal neutralizing antibody escape”. Nature. Published online: September 2021. https://doi.org/10.1038/s41586-021-04005-0; “Could Future COVID Variants Fully Dodge Our Immune System?”. https://scitechdaily.com/could-future-covid-variants-fully-dodge-our-immune-system/.

[5] Covid-19 Breakthrough Infections in Vaccinated Health Care Workers”. This article was published on July 28, 2021, at NEJM.org. https://www.nejm.org/doi/10.1056/NEJMoa2109072; “Community transmission and viral load kinetics of the SARS-CoV-2 delta (B.1.617.2) variant in vaccinated and unvaccinated individuals in the UK: a prospective, longitudinal, cohort study”. Published Online October 28, 2021. https://doi.org/10.1016/S1473-3099(21)00648-4; “Understanding Breakthrough Infections Following mRNA SARS-CoV-2 Vaccination”. JAMA. Published Online: November 4, 2021. doi:10.1001/jama.2021.19063. https://jamanetwork.com/journals/jama/fullarticle/2786040.

[7] Scientific consensus on the COVID-19 pandemic: we need to act now”. The Lancet. Published: October 15, 2020. DOI: https://doi.org/10.1016/S0140-6736(20)32153-X; JOHN SNOW MEMORANDUM https://www.johnsnowmemo.com/john-snow-memo.html; THE DECLARATION - MASS INFECTION IS NOT AN OPTION: WE MUST DO MORE TO PROTECT OUR YOUNG - First published in The Lancet, 7 July 2021 - https://www.thelancet.com/journals/lancet/article/PIIS0140-6736(21)01589-0/fulltext; “Great Barrington Declaration - As infectious disease epidemiologists and public health scientists we have grave concerns about the damaging physical and mental health impacts of the prevailing COVID-19 policies, and recommend an approach we call Focused Protection”. https://gbdeclaration.org/.

[8] Immunological characteristics govern the transition of COVID-19 to endemicity”. SCIENCE

VOL. 371, NO. 6530. https://www.science.org/doi/10.1126/science.abe6522.

[9] Immunological characteristics govern the transition of COVID-19 to endemicity”. SCIENCE

VOL. 371, NO. 6530. https://www.science.org/doi/10.1126/science.abe6522.

[10] O British Medical Journal tem coordenado uma série de seminários durante esta pandemia denominado “knowns unknowns” – “conhecidos desconhecidos”, ou seja, o que nós sabemos que não sabemos.

[11] Número básico de reprodução – o número de pessoas que se infecta a partir de uma pessoa infectada, em uma população totalmente suscetível.

[12] Imunidade esterilizante – Imunidade que evita a infecção e transmissão do vírus.

[14] Infection Fatality Ratio – letalidade do vírus – número de mortos por infectados.

[15] Immunological characteristics govern the transition of COVID-19 to endemicity”. SCIENCE

VOL. 371, NO. 6530. https://www.science.org/doi/10.1126/science.abe6522. Supplementary Material.

[16] Nicholas A. Christakis. Tweet on 29/11/2021, tweet number 4/ of a thread of 10 (“…The Wuhan strain had an R0 of 3, the delta variant an R0 of 6, and the omicron might have an R0 in the range of 4-8. I am very confident about this feature”).

[17] Não é implausível que novas variantes de vírus respiratórios tendam a ser mais transmissíveis e menos letais – mas isto não é necessariamente o que ocorre – inclusive, não há pressão evolutiva a princípio para que o SARS-CoV-2 evolua dessa forma, pois ele costuma se transmitir antes da pessoa ficar acamada ou morrer.

[18] Covid-19 Breakthrough Infections in Vaccinated Health Care Workers”. This article was published on July 28, 2021, at NEJM.org. https://www.nejm.org/doi/10.1056/NEJMoa2109072.

[19] Immunological characteristics govern the transition of COVID-19 to endemicity”. SCIENCE

VOL. 371, NO. 6530. https://www.science.org/doi/10.1126/science.abe6522.

[20] Immunological characteristics govern the transition of COVID-19 to endemicity”. SCIENCE

VOL. 371, NO. 6530. https://www.science.org/doi/10.1126/science.abe6522.“Taming a Pandemic”.

[21] High genetic barrier to SARS-CoV-2 polyclonal neutralizing antibody escape”. Nature. Published online: September 2021. https://doi.org/10.1038/s41586-021-04005-0; “Could Future COVID Variants Fully Dodge Our Immune System?”. https://scitechdaily.com/could-future-covid-variants-fully-dodge-our-immune-system/.

[22] Como é o caso da gripe que tem calendário anual. Immunological characteristics govern the transition of COVID-19 to endemicity”. SCIENCE VOL. 371, NO. 6530. https://www.science.org/doi/10.1126/science.abe6522.

 

[23] SARS-CoV-2 antibody prevalence in Brazil: results from two successive nationwide serological household surveys”. The Lancet Global Health. https://doi.org/10.1016/S2214-109X(20)30387-9.

[24] Lembrar que a letalidade calculada a partir dos casos de COVID-19 é aproximadamente 4 vezes maior do que a letalidade calculada a partir dos casos de infecção pelo SARS-CoV-2.

[25] Immunological characteristics govern the transition of COVID-19 to endemicity”. SCIENCE

VOL. 371, NO. 6530. https://www.science.org/doi/10.1126/science.abe6522.

[26] “Como interpretar os benefícios das vacinas contra a COVID-19” – 3 de janeiro de 2021.  https://nadanovsky.blogspot.com/2021/01/como-interpretar-os-beneficios-das.html.

[27] Autoridades políticas e de saúde pública encaram responsabilidades maiores do que acadêmicos (como eu por exemplo) ao preconizar (ou discutir) políticas públicas. Suas decisões influenciarão milhões de pessoas com consequências diretas no risco de morrer. Por isso, devem ser cautelosos e conservadores. Acadêmicos podem (e devem) ser mais ousados, pois suas indagações servem para qualificar discussões e tomadas de decisões pelas autoridades, mas podem (e devem) sofrer avaliações críticas e modificações antes de serem preconizadas e adotadas.

[28] Immunological characteristics govern the transition of COVID-19 to endemicity”. SCIENCE

VOL. 371, NO. 6530. https://www.science.org/doi/10.1126/science.abe6522.

[29] Evaluation of the BNT162b2 Covid-19 Vaccine in Children 5 to 11 Years of Age”. Published on November 9, 2021, at NEJM.org. https://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMoa2116298.

[30] Sick individuals and sick populations”. International Journal of Epidemiology 1985, 14:32-38. Rose G.

[31] Covid-19 Breakthrough Infections in Vaccinated Health Care Workers”. This article was published on July 28, 2021, at NEJM.org. https://www.nejm.org/doi/10.1056/NEJMoa2109072; “Community transmission and viral load kinetics of the SARS-CoV-2 delta (B.1.617.2) variant in vaccinated and unvaccinated individuals in the UK: a prospective, longitudinal, cohort study”. Published Online October 28, 2021. https://doi.org/10.1016/S1473-3099(21)00648-4.

[32] Immunological characteristics govern the transition of COVID-19 to endemicity”. SCIENCE

VOL. 371, NO. 6530. https://www.science.org/doi/10.1126/science.abe6522.