terça-feira, 31 de março de 2020

O número cumulativo de mortes por COVID-19 - Brasil em comparação com outros países - 31 de Março de 2020










* Dia 1 (Dia em que houve a primeira morte registrada de COVID-19): Brasil, Março 17; Coreia do Sul, Fevereiro 20; Itália, Fevereiro 21; Espanha, Março 1; EUA, Fevereiro 29; Reino Unido, Março 5.


Interpretação dos dados

O principal objetivo no momento é “achatar a curva” da epidemia. “Achatar a curva” significa reduzir a velocidade de propagação da epidemia (não necessariamente o número total de pessoas que serão afetadas). Para saber se a curva no Brasil está sendo achatada é necessário ter algum parâmetro de comparação, i.e., alguma outra curva com a qual comparar a curva no Brasil.
As figuras (as duas figuras relatam os mesmos dados – somente os formatos são diferentes) revelam a situação no Brasil em comparação com a de outros países. Ao completar duas semanas desde a primeira morte registrada por COVID-19, a Espanha se destaca com a curva menos achatada enquanto a Coreia do Sul com a mais achatada; a Espanha com 342 mortes e a Coreia com 35 em duas semanas. O EUA apresenta uma curva mais achatada que a do Brasil, o Reino Unido uma curva similar à do Brasil e a Itália, depois do dia 12, uma curva que tende a ficar menos achatada que a do Brasil. Esses dados sugerem que as medidas tomadas pelo Brasil tendem a diminuir o número de mortes em decorrência deste surto da COVID-19 em comparação com a Itália e a Espanha, mas não em comparação com a Coreia do Sul e os EUA.

Considerações metodológicas

Provavelmente, em países que iniciaram o surto mais cedo, houve mais mortes pela COVID-19 que não foram registradas como tal (subnotificação de mortes pela COVID-19), pois os médicos não estavam ainda tão alertados sobre esta doença como os médicos em países onde o surto iniciou mais tarde. Por isso, na comparação entre o Brasil (surto mais tardio) e a Coreia do Sul por exemplo, deve se considerar a possibilidade de subnotificação de morte pela COVID-19 na Coreia mais do que no Brasil. Difícil saber quão alertas estavam os médicos em cada um desses países e se houve diferença neste aspecto entre eles.
De qualquer forma, na medida em que os dias foram passando, provavelmente o nível de atenção deve ter ficado similar nos países investigados aqui. Como as mortes começaram a acontecer depois dos surtos serem detectados através de sintomas clínicos e testes diagnósticos, provavelmente a subnotificação é um problema menor na definição de um caso de óbito do que na definição de um caso de infecção.  
Continuaremos a atualizar esses dados para ajudar a estimar e a divulgar a velocidade da propagação da epidemia no Brasil em comparação com esses outros países.

Paulo Nadanovsky, PhD.
Epidemiologista da Fiocruz e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.


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